Você já reparou como os comerciais de margarina retratam a família? A mesa sempre posta, a cozinha iluminada pelo sol da manhã, crianças sorridentes e os pais trocando olhares de cumplicidade enquanto o pão é passado com margarina. Nenhuma discussão, nenhuma lágrima, nenhuma ausência. Mas a verdade é que poucas, pouquíssimas famílias se parecem com isso. E para muitos, a margarina acaba antes mesmo do café começar.
Na vida real, a mesa nem sempre está completa. Há cadeiras vazias, palavras mal ditas, conflitos acumulados e histórias difíceis de serem contadas. Pais que não sabem mais como dialogar com os filhos, casais que perderam a alegria de caminhar juntos, irmãos que se evitam, lembranças que ferem mais do que consolam. Famílias imperfeitas, partidas, disfuncionais. A verdade é que muitas famílias passam por momentos em que as coisas não se encaixam. E o coração começa a acreditar que só as famílias dos outros são felizes.
A boa notícia é que a Bíblia não ignora isso. Ela não pinta seus personagens com tintas falsas. Desde o início, vemos famílias marcadas pelo pecado e pelas consequências dele. Adão e Eva criaram filhos que se mataram. Jacó e Esaú romperam. José foi vendido pelos irmãos. Davi viu sua casa se esfacelar por conta de suas próprias escolhas. E mesmo assim, a história da redenção avança. O que o evangelho anuncia é que a graça de Deus alcança lares onde a margarina já acabou. Lares onde o diálogo virou silêncio. Onde a ferida virou rotina. Onde o “bom dia” já não faz parte da manhã. É exatamente nesses ambientes que o amor de Cristo penetra, não para encobrir a dor com sorrisos forçados, mas para restaurar corações feridos, perdoar culpas antigas e reconciliar aqueles que se perderam no caminho.
Jesus veio para salvar pecadores e suas famílias quebradas. Ele não veio buscar apenas a família de comercial, mas também a que mal consegue se reunir à mesa. Na cruz, Ele carregou não só os nossos pecados pessoais, mas também as feridas e divisões que contaminam nossos lares. Por isso, há esperança. A esperança não está em voltarmos a ser perfeitos, mas em nos tornarmos dependentes da graça. Em aprendermos a perdoar, a recomeçar, a pedir ajuda, a aceitar que nossas casas precisam mais de Cristo do que de aparências. Que o pão na mesa é bênção, mas o pão da vida é essencial.
Se hoje a margarina acabou na sua casa — se há ausência, cansaço, culpa ou dor — lembre-se: Cristo se senta à mesa de publicanos, pecadores e famílias desajustadas. Ele transforma o pranto em alegria, as ruínas em morada. E aquilo que parecia o fim pode se tornar o começo de uma nova história.
“Pois para Deus, nada é impossível.” (Lucas 1.37)
Em cristo, Rev Günther Nagel